sábado, 4 de agosto de 2007

Os ombros suportam o mundo

Chega um tempo em que não se diz mais: meu Deus.
Tempo de absoluta depuração.
Tempo em que não se diz mais: meu amor.
Porque o amor resultou inútil.
E os olhos não choram.
E as mãos tecem apenas o rude trabalho.
E o coração está seco.
Em vão mulheres batem à porta, não abrirás.
Ficaste sozinho, a luz apagou-se,mas na sombra teus olhos resplandecem enormes.
És todo certeza, já não sabes sofrer.
E nada esperas de teus amigos.
Pouco importa venha a velhice, que é a velhice?
Teus ombros suportam o mundo
e ele não pesa mais que a mão de uma criança.
As guerras, as fomes, as discussões dentro dos edifícios
provam apenas que a vida prossegue
e nem todos se libertaram ainda.
Alguns, achando bárbaro o espetáculo
prefeririam (os delicados) morrer.
Chegou um tempo em que não adianta morrer.
Chegou um tempo em que a vida é uma ordem.
A vida apenas, sem mistificação.

Sempre ele, Carlos Drummond de Andrade.

sábado, 28 de julho de 2007

" A saudade não é salgada não, a saudade é doce. "

Saudade, s.f. Recordação ao mesmo tempo triste e suave de pessoas ou coisas distantes , acompanhada do desejo de tornar a vê-las ou possuí-las.
Saudade é querer trazer o passado a tona, é ter vontade de reviver momentos felizes, é aquela dor indescritível e angustiante, é acreditar e querer ter de volta o que não existe mais. Saudade é também o sentimento dos apaixonados e pode ser muito gostosa nesses casos: é aquela sensação de querer perto o amado e saber que em breve ela terminará com um abraço aconchegante. No entanto, se os apaixonados não puderem estar juntos, então a saudade pode ser a pior das dores.
A saudade deveria ter mais uma definição no dicionário. Como chamar o sentimento de ser feliz por tudo que aconteceu mas não querer isso de volta? É aquela lembrança gostosa dos momentos bons de um namoro que ficou no passado e de lá não tem a menor intenção de sair... Não dá pra chamar só de lembrança, é muito mais do que isso, seria bom viver tudo aquilo de novo, foi realmente especial, contudo não tem mais espaço no presente. É o passado bem distante do presente. Não é triste como a saudade do dicionário, é agradável e suave. Saudade é uma palavra linda e deveria signifcar também estar feliz por tudo de bom que aconteceu.

O que é pior, a dor pelo fim de um relacionamento ou a ausência de dor por isso? Vou explicar melhor. Quando um namoro termina, por exemplo, vem aquela sensação de vazio quase insuportável e junto a saudade. Como disse Drummond no post anterior, o sofrimento é causado por tudo aquilo que sonhamos e planejamos viver com aquela pessoa e agora não vai mais acontecer. Dói e dói muito, mas passa. Depois, com a calmaria chega também uma sensação angustiante, não sei nem como descrevê-la com precisão. Não tem mais sofrimento ou dor. É algo como um sentimento de culpa por ter deixado pra trás tão 'facilmente' todo aquele amor um dia jurado eterno. É não sentir mais a dolorida saudade e não ter mais vontade de estar junto. É como se não fizessem mais sentido todos aqueles sonhos e planos, como se nunca tivessem tido real importância... Todos aqueles sentimentos próprios de apaixonados já foram embora, inclusive a paixão, menos o amor, afinal " é sempre amor, mesmo que mude". O amor aos poucos se transforma apenas em carinho, respeito e consideração, quase nada perto daquele ' eu te amo mais que tudo ' de pouco tempo atrás.

Sinceramente, a ausência de dor me incomoda mais que a dor de fato. Eu sei que a dor vai passar e sei também que vou aprender com ela, mas esse sentimento-sem-nome de ver se transformar em nada o que um dia foi tudo, ainda não descobri como e quando termina.

quinta-feira, 19 de julho de 2007

É preciso dizer mais?

Viver não dói

Definitivo, como tudo o que é simples. Nossa dor não advém das coisas vividas, mas das coisas que foram sonhadas e não se cumpriram. Por que sofremos tanto por amor? O certo seria a gente não sofrer, apenas agradecer por termos conhecido uma pessoa tão bacana, que gerou em nós um sentimento intenso e que nos fez companhia por um tempo razoável, um tempo feliz.
Sofremos por quê?
Porque automaticamente esquecemos o que foi desfrutado e passamos a sofrer pelas nossas projeções irrealizadas, por todas as cidades que gostaríamos de ter conhecido ao lado do nosso amor e não conhecemos, por todos os filhos que gostaríamos de ter tido junto e não tivemos, por todos os shows e livros e silêncios que gostaríamos de ter compartilhado, e não compartilhamos.
Por todos os beijos cancelados, pela eternidade. Sofremos não porque nosso trabalho é desgastante e paga pouco, mas por todas as horas livres que deixamos de ter para ir ao cinema, para conversar com um amigo, para nadar, para namorar.
Sofremos não porque nossa mãe é impaciente conosco, mas por todos os momentos em que poderíamos estar confidenciando a ela nossas mais profundas angústias, se ela estivesse interessada em nos compreender.
Sofremos não porque nosso time perdeu, mas pela euforia sufocada. Sofremos não porque envelhecemos, mas porque o futuro está sendo confiscado de nós, impedindo assim que mil aventuras nos aconteçam, todas aquelas com as quais sonhamos e nunca chegamos a experimentar.
Como aliviar a dor do que não foi vivido? A resposta é simples como um verso: Se iludindo menos e vivendo mais!!!A cada dia que vivo, mais me convenço de que o desperdício da vida está no amor que não damos, nas forças que não usamos, na prudência egoísta que nada arrisca, e que, esquivando-se do sofrimento, perdemos também a felicidade.
A dor é inevitável. O sofrimento é opcional.
Carlos Drummond de Andrade

domingo, 8 de julho de 2007

Tempo

O longo intervalo entre a postagem anterior e esta se deve a apenas um motivo: bloqueio mental. Nunca imaginei que isso pudesse acontecer comigo, sempre gostei de escrever e, principalmente, sempre quis dizer a quem quisesse ouvir o que eu pensava do mundo. Nesse ano, entretanto, nada tem acontecido dentro do esperado. Nunca achei que esse ano seria fácil, mas não esperava tantas mudanças, meu mundo saiu do meu controle e só eu sei o quanto isso me perturba. O cursinho me suga de um forma inestimável, suga meu tempo, minha energia e quase toda a minha capacidade mental, o pouco que me resta dela preciso usar para escrever as redações das oficinas. Não tenho tempo para ler os livros que quero - tenho que me deter àquela lista da fuvest; grandes clássicos da língua portuguesa, incríveis, mas, para mim, leitura nenhuma é prazerosa quando obrigatória - não tenho tempo para ir ao cinema, para ir ao teatro, para ver os amigos ou pra ir a qualquer outro lugar diferente da Rua Sergipe. Tempo, é disso que eu preciso.


E ele veio. Estou de FÉRIAS, finalmente.

sexta-feira, 8 de junho de 2007

Começando

Esse blog não tem a intenção de ser um diário pessoal, de ter regularidade, nem de atender as expectativas de ninguém. É uma vávula de escape, minha válvula de escape. Foi criado para expressar a visão de mundo de uma menina que está sendo obrigada a se tornar mulher as custas de vômitos de realidade.

Sejam bem-vindos!